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24 de abr. de 2016

Aceitei a volta



Aceitei a volta, juntamente de todos os problemas já conhecidos, insisti mais uma vez, acreditei. Como haveria de não acreditar naquele par de olhos doces ao me olharem? Aceitei a volta e notavelmente cada parte de teu corpo estava voltada para mim, sussurrando perdão à espera da renúncia do orgulho e entrega ao amor. Entreguei-me ali na sala mesmo, com todos os móveis de plateia. Ele sabia cada ponto meu, soube tocar-me desde o corpo a alma, notei que por mais que fosse difícil permanecermos bem, era ele e não poderia ser mais ninguém. Apesar de tantos outros me quererem, ele era o único que me tinha verdadeiramente sem ao menos fazer nada, só por existir, estar ali e ser ele. Nunca havia idealizado um homem quando nova, mas a certeza era gritante, era ele e não poderia ser mais ninguém. Seu ego sempre em dúvida de minha escolha o fazia questionar-se por que eu o havia escolhido e permanecido ao seu lado até então, por vezes repeti isso a ele. Após os beijos e afagos de corpos a dúvida retornava em sua mente, às vezes saindo de sua boca, às vezes saindo de seus olhos ou até mesmo presa em teu silêncio. Aceitei a volta no dever de peito cheio de amor que transbordava no meu olhar em meio a tantas brincadeiras e risadas, nunca resisti ao seu par de olhos doces. Não haveria orgulho que me mantivesse longe dele, aceitei a volta e me entreguei.

18 de abr. de 2016

Hoje eu te vi




Hoje eu te vi, no meio do ônibus lotado estávamos nós, você sentada olhando para fora e eu te olhando a dentro. Hoje eu te vi, mais que nos dias que te tive ao meu lado, como você estava linda, mesmo cansada, linda. Dava para ver nos seus olhos e te ouvi comentar como estava corrida sua rotina, fiquei feliz em saber, ouvi falar que mesmo assim era grata a Deus por tudo que está fazendo, o que há tempos queria e gosta. Hoje eu te vi a dentro, mais do que seus olhos grandes e marcantes, sorriso que instiga, alça do sutiã que sempre me arrepia e passagem de mão nos cabelos armados - leonina. Hoje eu vi teu interior, de mulher batalhadora no intervalo de suas lutas, a qual não desiste de nada que queira verdadeiramente, porque você é a pessoa mais verdadeira que já conheci. Sorri, abaixei a cabeça com medo que me visse e de alguma forma aquela bela visão e análise fosse interrompida. É, análise, não é só você que vê Psicologia nas coisas e pessoas, naquele momento lembrei-me de muitas de suas palavras, Freud ao te ver pensaria em muito mais coisas que libido, se até eu pensei. O desenvolvimento humano é incrível mesmo, precisei não ver, perder, pra enxergar e sentir. Doeu, notei tua aliança de noivado, foi um puta baque. Jamais pensei que outro homem além de mim fosse planejar te pedir em casamento, você não entende né?! Somente eu poderia te querer e ter, eu achei que ia ser sempre assim, vai ver por isso vacilei tantas vezes que perdi a conta, você mesmo não sendo de exatas tinha na ponta da língua cada vacilo meu - oh, que língua! A essa altura eu já havia me aproximado mais de você, passei a sentir teu cheiro, fui traído pela memória que juntamente do teu cheiro trouxe as lembranças. Por todos esses meses estava certo que havia esquecido cada traço teu. Eu já estava soando frio e não conseguia tirar os olhos daquela maldita aliança que eu não havia te dado. Finalmente eu te vi a dentro. O quanto eu perdi hein? Maldito o que te tem. Te ter no modo de falar, você sempre tão livre e certa de tudo, inúmeras vezes me emburrei por isso. Eu tinha em meu colo a menina moleca sapeca mais divinamente mulher, de carne e alma, do sorriso largo que chega se achegando no ombro ao alto e com braços que entrelaçavam o mundo. Ela era tudo, ela foi tudo, ela é tudo, agora no colo de outro. Hoje eu te vi, por que não ontem?

3 de dez. de 2015

Os trovões de minha voz




Os trovões de minha voz já não o estremeciam mais, nitidamente cuidadoso ele voltou para me escutar, ler e desvendar, cada traço e garrancho meu. Ele sempre fora apaixonado por minhas escritas, acalantava a cada pontuação. Passei pela fase de escritora em silêncio, desde a boca até as escritas, nada havia em minha mente, papéis ou coração, ele cuidadosamente se prontificou em preencher cada lacuna. Notei sua preocupação com meu bem desde quando nos conhecemos, nos trombamos e tropecei, segurou-me com a firmeza de um homem e com o cuidado de um apaixonado, me apaixonei. O olhava em êxtase, poucas foram as demonstrações de afeto e ajuda que tive nessa vida sem realmente um interesse em segundo plano, seja no segundo, terceiro ou quarto, nele só havia eu, só havia nós. Sentia meu peito preenchido por tudo que ele havia absorvido de bom até aquele instante de sua vida, linda mãe, bendita e amor. Há quem não goste de sua sogra, eu particularmente a agradeço diariamente por tamanha obra.

Um de meus prazeres diários tornou-se o acalentar com minha escrita e pontuação, além de carinhos em prontidão. Via em seu sorriso um agradecimento pelo momento além de convite para vida, convite esse que aceitei sem pestanejar, joguei-me em teus braços, gargalhei e desde então vivo como nunca, aproveitando os grandes e pequenos prazeres da vida. Eu o amo! Tanto que as vezes quando andamos pela rua ou estamos em algum restaurante ou praia o peito aperta e não cabe mais o sentimento de tão grande e intenso que chego a gritar, "Eu o amo!". Envergonhado pelos olhares agitados ele se acanha, gargalho por sua imagem rosada em bochechas e digo "Tolos eles, não sabem o que vivo nem o que carrego no peito, precisam passar por isso... Tolo você, amar nunca foi vergonha, é tesão, alegria e frio na barriga, vezes ou outro é grito, envergonhar-se por isso é tolice!" Ele abaixa a cabeça e dá de ombro, gargalha sorrateiro, me abraça e beija, beijo gostoso, que acalenta e há encontro de almas, agradeço em pensamento por viver esse sonho acordada. Ele sabendo de meu jeito leonina que odeio receber elogios, me transborda dos mesmos para brotar minha timidez e bravura, eu sorria e dava de ombro, ele gargalhava por minha face e vasos sanguíneos que saltavam em meus braços e rosto com sobrancelha que se sobressaía.

Os trovões de minha voz já não o estremeciam mais, passaram a acalentar feito canção de ninar nitidamente cada ponto de seu corpo, alma e coração. Agradeci como nunca. No intervalo de cada encontro de almas (beijo) ele foi entendendo mais um bocado desse tal amor e seus instintos, surpreendeu-me na praça, embaixo de um sol quente e lindo, de vento fresco, gritou meu nome juntamente de juras de amor, refresquei-me. Após sua entrega me entreguei a eterna fase presente de escritora em vespas pela boca, dedos e pensamentos, cada detalhe era motivo de texto. Meus dedos passeavam por seu corpo, como se escrevesse nele, a cada pontuação uma mordida.

4 de out. de 2015

Tola





Eu estive mais tempo nas mãos dele que sob consciência de mim mesma. Eu sei que houveram outras, tantas outras, mas também sei que nenhuma o fez sorrir como menino vivendo como homem da forma que eu fiz. O apreço que mantenho por ele é baseado na educação que tive de minha mãe, regar o que ele um dia fez florescer dentro de mim, manter em meu peito ar purificado pra que meu pulmão não sofra um terço do que meu coração sofreu após nosso término brutal e até mesmo enquanto vivíamos aquela relação de ego ferido diariamente, com exceção de quando estávamos na cama, ou melhor, nus. 

O menino que fiz homem me notava apenas como mulher, no sentido cru da palavra, demorei a ver, talvez estivesse visto desde o começo, mas meus olhos preferiam ficar estáticos por sua casca que interior. Por tudo que ele tenha tirado de dentro de mim além de objetos de minha casa, tanto espaço ficou que passei por preencher detalhadamente cada canto aqui dentro e fora, passei a filtrar até mesmo meu inconsciente por uma vida que fosse inteiramente minha, sem interrupções. Por anos ao lado dele falhei em ser eu, vesti a carapuça que me deu de laço feito pra que me aceitasse e fosse aceita em sua roda de amigos, um troféu. Abri mão até mesmo dos meus pensamentos, calei a boca e ceguei a língua afiada que tinha desde pequena, envergonho-me, não honrei meu signo e tão pouco os ensinamentos que tive dentro de casa. 

Suas palavras enquanto colocavam fim em nosso relacionamento dilaceravam meu consciente juntamente dos ouvidos e sentimento, sentimento esse que fiz crescer antes mesmo de o conhecer, o qual depositei com confiança após ver seu sorriso encantador, menino, homem. No emaranhado de lençóis a cada gemido minha alma sorria na esperança de ser liberta pra viver o que a aliança prendia e sufocava, tola alma, mal reconhecia o ambiente de prisão que havia sido condicionada. A falta de melanina em meu corpo deixava à mostra marcas das cenas vividas entre os lençóis, vezes ou outras sofá, carro ou piscina. Aventureiro, escalava cada décimo de meu corpo, fincava seu material sem cálculo prévio ou estudo de campo, o resultado que o satisfazia era apenas seu, saído de seu corpo, com uso do meu. Sentia-me de corpo reciclado, usado e usado constantemente sem cuidado ou tratamento específico. 

Tola, talvez promíscua, forço a lembrar o que passava por minha mente nessas situações, antes e após, um flash branco mantém em minha vista. Reconheci que nesses anos de fluídos trocados por abster de razão, passei a não ter controle sobre meus próprios pensamentos e tão poucos sentimentos. Tola, marionete. Fez por passear suas mãos por todo meu corpo, juntamente de alma e cérebro, violentou-me no mais profundo sentido da palavra em cada estado de entendimento. Deixou rastros e marcas, os quais lavo-me diariamente, mas vezes ou outra no auge da companhia de uma garrafa de rum eu recordo friamente grunindo dentes e arrepiar de pele.